"Alguém certa vez disse que as histórias só ocorrem com aqueles que são capazes de contá-las.
Do mesmo modo, quem sabe, as experiências se apresentam àqueles que são capazes de vivê-las.”

(João Ubaldo Ribeiro)

Dançar? É só começar!

Amigos "bailadeiros", e aqueles que ainda não são, hoje a postagem também é de um texto escrito há alguns anos. Dia desses recuperei os arquivos de um computador aposentado e foram muitas as surpresas, encontrei materiais que eu nem me lembrava de ter produzido.
Este, por exemplo, é uma matéria que escrevi para a Revista do Centenário de Penápolis, em 2008.
Segue a reportagem (mesmo um pouco extensa, fora dos padrões de textos para a internet, vou publicá-la na íntegra, assim vocês podem conhecer o depoimento de algumas pessoas que entrevistei).
Espero que gostem. E, claro, que comecem a dançar!

DANÇAR? É SÓ COMEÇAR!
(Amanda Reis - especial para a Revista Centenário de Penápolis, 2008)


Ficar parado no canto do salão quando a música começa nunca foi a melhor alternativa para quem pensa que não sabe dançar as chamadas "danças de salão". Assim defende quem já sentiu na pele a indecisão entre passar a noite só observando ou arriscar uns passos, seja de forró, samba de gafieira ou bolero.
O autônomo Arnaldo Maganini, 38 anos, é um dos que experimentou trocar a cadeira pelo meio do salão.  “Eu chegava aos bailes e não tinha o que fazer a não ser ficar olhando o pessoal dançar”, conta. Aluno de dança de salão há cerca de um ano, ele, a esposa e a filha ganharam a opção de diversão em família. “É muito bom, especialmente para o casal, porque além de divertir e quebrar a rotina, a dança a dois cria um ótimo clima romântico”, considera.
A atividade também se tornou a principal terapia anti-stress da aposentada Claudete Pagani Pepino, 58. Viúva há 19 anos, ela conta que passou um longo período com depressão até começar a freqüentar bailes na Associação Renascer da Terceira Idade, há cinco anos. “Hoje já nem tomo mais remédio, não tenho mais nada”, revela. 
As palavras de Claudete representam a de centenas de idosos, uma vez que os benefícios da dança fizeram com que ela se interessasse por fazer parte da diretoria da entidade, onde atualmente é vice-presidente. “É uma felicidade proporcionar para os associados eventos dançantes. A dança é o maior tesouro para muitos e vejo a felicidade em cada rosto”, diz.
A vice-presidente defende que a simples prática da dança de salão pode ser essencial para o bem estar. “Se todas as pessoas na terceira idade pudessem experimentar e descobrir o quanto essa atividade faz bem, acredito que prolongariam suas vidas porque viveriam com mais qualidade”, considera.
O comerciante Valdemar Manoel da Silva, 63, pratica a dança de salão há oito anos e chega a freqüentar aulas ou salões de bailes até cinco vezes na semana. “A minha vida é a dança! Como não pratico esporte algum e trabalho sentado, a dança me ajuda como atividade para o corpo e para a mente, é fantástico!”, conta. 
E se o assunto é coragem para entrar no salão, Valdemar garante que a ousadia precisa existir. “Sou exigente quando danço e não tenho medo de arriscar os passos. Faço até questão de ser o primeiro a entrar no salão. Meu compromisso é com a dança”, explica.

Para poucos
Apesar de ser uma das mais antigas práticas sociais, a disseminação da dança de salão quase sempre segue timidamente, exceto quando os modismos vindos da mídia conseguem lotar academias e clubes de dança, como aconteceu com a lambada e, anos depois, com o forró universitário.
Mas, embora vista por muitos como prática um tanto “ultrapassada”, conquista adeptos das mais variadas idades e muda concepções.É o caso do consultor de tecnologia da informação Andrey Bragalda, 28 anos. Vocalista de uma banda de rock e fã incondicional desse estilo musical, conheceu as aulas de dança de salão recentemente e já se considera contagiado. “Foi um desafio pra mim, me considerava travado para dançar”, confessa. 
O motivo da pequena adesão dos jovens, na opinião de Andrey, é a timidez e, muitas vezes, falta de conhecimento sobre esta cultura. “As danças de salão não são naturalmente aprendidas no dia a dia, as pessoas não conhecem muito e algumas até acham que não vão agregar nada à suas vidas”, comenta, “As pessoas não dançam porque não sabem. Eu nunca tinha dançado e depois que aprendi não tenho receio ou vergonha de convidar outras pessoas”, completa.
Além de testemunhar sobre inúmeros benefícios da dança, Andrey revela que a nova atividade também mudou seu comportamento no trabalho. “Dançar com pessoas de várias idades e personalidades nos ensina a respeitar limites, ser tolerante e compreensivo e nos adaptar ao ritmo de aprendizado dos outros”, diz.
A estudante Thais Scatolini, 24 anos, também se rendeu à dança a dois, há mais de três anos. “Dançar me traz muitos benefícios, como conhecer várias pessoas e fazer amizades, além de ser uma atividade maravilhosa, que me traz paz e felicidade”, define. A jovem também concorda que falta incentivo para que os jovens se interessem pelos ritmos dos salões, retomando a antiga prática da dança a dois. “Não gosto dos ritmos eletrônicos das boates, penso que as danças de salão formam um ambiente de convívio mais harmonioso e até podem nos tornar pessoas melhores”, acrescenta.
A mãe de Thaís, Maria Cristina de Souza Scatolini, 46, acompanha a filha nas aulas e frequentemente sai para dançar em eventos não só em Penápolis como em Araçatuba e Birigui. “É um exercício para manter a forma e ainda me oferece novas amizades e faz muito bem para a mente”, diz. Para ela, esta atividade é uma terapia. “Quando passamos uma semana difícil, vamos para um baile e esquecemos dos problemas. A dança me traz alegria, parece que aquece a alma”, finaliza. 
A dança de salão não exige roupas ou sapatos específicos, nem um grande condicionamento físico ou equipamentos. Além disso, pode ser praticada em qualquer lugar, por pessoas de qualquer idade. Então, arrisque! Nunca é tarde para experimentar os efeitos do que seus adeptos chamam de simples e barato remédio para muitos males.

Amanda Reis - jornalista
novembro/2011
* O uso de parte ou de todo o texto não é permitido sem a devida autorização da autora

Nenhum comentário:

Postar um comentário